6 de dezembro de 2007

O melhor de 2007

Mark Carpenter *

Ir ao cinema, ler um livro, ouvir música. Atividades para as off hours, mas também a melhor maneira de encostar o dedo no pulso da sociedade. Os artistas ainda medem como ninguém a temperatura dos tempos. A seguir, minha opinião sobre o que surgiu de mais interessante no radar cultural do ano.

Cinema
O hospedeiro. A obra mais surpreendente do ano, do sul-coreano Joon-ho Bong. Começa como filminho de monstro e vai ganhando profundidade até transformar-se num eloqüente comentário sobre a natureza do isolamento e da sobrevivência. Meu candidato a Filme do Ano.
Mais estranho que a ficção. Will Ferrell representa um burocrata cuja vida está sendo ditada por uma romancista em crise. Uma surreal fábula moral sobre a relação do artista com sua obra.
Marie Antoinette. Mais uma vez a mão leve de Sofia Coppola (Encontros e desencontros) concentra-se na personagem estrangeira, em detrimento do enredo. O que ela revela e esconde nos força a reler tudo que pensávamos conhecer tão bem.
Ratatouille. Um dos melhores filmes animados da década. Contado com sensibilidade incomum para o gênero, é uma narrativa de paixão e sonho em conflito com a realidade percebida.
O ano em que meus pais saíram de férias. Lançado em 2006 mas consagrado este ano, o filme é uma pequena jóia sobre resignação e esperança em um ambiente de repressão militar.

Livros
Harry Potter & the Deathly Hallows, J. K. Rowling. Impossível ignorar este fenômeno. O último livro da série inclui citações bíblicas e assim revela o código moral que impulsiona o protagonista deste universo paralelo.
Children of Hurin, J. R. R. Tolkien. Christopher Tolkien, filho do autor da trilogia O Senhor dos Anéis, dedicou-se durante décadas para juntar trechos, notas e descrições que seu pai havia deixado na esperança de escrever nova obra. O resultado é uma volta triunfal à Terra Média.
Grace (Eventually): Thoughts on Faith, Anne Lamott. Chocante: não há outro adjetivo para descrever o olhar irreverente mas carinhoso desta cristã em crise permanente. Na busca pelo sentido da fé, ela acaba testando a fé dos próprios leitores.
Contemporâneo de Mim, Daniel Piza. Compêndio do venerado colunista do Estadão. Percebi, desconcertado, que concordo com ele em tudo menos o fundamental: crença em Deus.
O Delírio de Dawkins, Alister McGrath. O rei está nu, sugere McGrath, citando o guru dos novos ateus, Richard Dawkins. McGrath desconstrói seus postulados com a elegância lógica digna de um C. S. Lewis.

Música
Family Tree, Nick Drake. Uma antologia caseira de retalhos musicais que elucida a trajetória trágica deste grande compositor inglês que morreu em 1974 aos 26 anos.
Memory Almost Full, Paul McCartney. A inteligência criativa de Paul está em alta. Se os Beatles existissem hoje, este seria seu som.
Back to Black, Amy Winehouse. Esta cantora é uma tragédia anunciada, mas o abuso que faz das drogas não afetou sua voz, poderosa e certeira. Pergunto-me: É válido orar por uma estrela pop?
Metheny Mehldau Quartet, Pat Metheny, Brad Mehldau. Vale a pena investir em tudo que Mehldau produz. O maior pianista de nossos tempos, ainda sem o reconhecimento merecido.
Samba meu, Maria Rita. Foi um ano melancólico para a música brasileira, com muito axé e MPB requentado. Nessa gravação Maria Rita compensa a falta de convicção com a perfeição técnica. Não é muito, mas é o melhor da safra.


Mark Carpenter é diretor-presidente da Editora Mundo Cristão e mestre em letras modernas pela USP.

Coluna Arte e Cultura da Revista Ultimato de novembro/2007

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