29 de julho de 2010

SACRIFÍCIO

JESUS CRISTO FEZ-SE EXPIAÇÃO POR NOSSO PECADO

A quem [Jesus Cristo] Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé...
ROMANOS 3.25

Expiação significa consertar, apagar a ofensa e dar satisfação por erros cometidos, reconciliando assim as pessoas separadas e restaurando entre elas a relação rompida.

A Escritura menciona todos os seres humanos como necessitados de reparação de seus pecados, porém faltos de todo o poder e recursos para fazê-lo. Ofendemos nosso santo Criador, cuja natureza é odiar o pecado (Jr 44.4; Hc 1.13) e puni-lo (Sl 5.4-6; Rm 1.18; 2.5-9). Nenhuma aceitação haverá da parte desse Deus, ou comunhão com Ele, a menos que a reparação se faça, e considerando que há pecado mesmo em nossas melhores ações, qualquer coisa que façamos na esperança de repará-lo pode somente agravar nossa culpa ou piorar nossa situação. Isto torna danosa a insensatez de procurar instituir uma justiça própria diante de Deus (Jó 15.14-16; Rm 10.2-3); isto simplesmente não pode ser feito.

Entretanto, contra este pano de fundo da desesperança humana, a Escritura anuncia o amor, a graça, a misericórdia, a piedade, a bondade e a compaixão de Deus – o Criador ofendido, que provê em si mesmo a expiação que aquele pecado tornou necessária. Esta maravilhosa graça é o centro focal da fé, esperança, adoração, ética e vida espiritual do Novo Testamento; de Mateus ao Apocalipse ela refulge com opulenta glória.

Quando Deus tirou Israel do Egito, Ele instituiu como parte do relacionamento pactual um sistema de sacrifícios que tinha no seu centro o derramamento e oferta do sangue de animais sem defeito “para fazer expiação para vossas almas” (Lc 17.11). Esses sacrifícios eram típicos (isto é, tipos, pois apontavam para algo mais adiante). Embora os pecados fossem, de fato, “deixados impunes” (Rm 3.25) quando os sacrifícios eram oferecidos fielmente, o que efetivamente os apagava não eram o sangue do animal (Hb 10.11), mas o sangue do antítipo, o Filho de Deus sem pecado, Jesus Cristo, cuja morte na cruz fez expiação por todos os pecados cometidos antes do evento, bem como por todos os pecados cometidos depois dele (Rm 3.25,26; 4.3-8; Hb 9.11-15).

As referências do Noto Testamento ao sangue de Cristo são comumente sacrificiais (por exemplo, Rm 3.25; 5.9; Ef 1.17; Ap. 1.5). Como sacrifício perfeito pelo pecado (Rm 8.3; Ef 5.2; 1 Pe 1.18,19), a morte de Cristo foi nossa redenção (isto é, nosso livramento por resgate: o pagamento de um preço que nos tornou livres do perigo da culpa, escravização ao pecado e expectativa da ira; Rm 3.24; Gl 4.4-5; Cl 1.14). A morte de Cristo foi o ato de Deus de reconciliar-nos com Ele, superando sua própria hostilidade contra nós, provocada pelo pecado (Rm 5.10; 2 Co 5.18, 19; Cl 1.20-22). A Cruz foi a propiciação de Deus (isto é, aplacou sua ira contra nós pela expiação de nossos pecados e, assim, os removeu de sua vista). Os textos-chave aqui são Romanos 3.25; Hebreus 2.17; 1 Jo 2.2 e 4.10, em todos os quais o grego expressa explicitamente a propiciação. A cruz tinha seu efeito propiciatório, porque em seu sofrimento Cristo assumiu nossa identidade, por assim dizer, e suportou o julgamento retribuidor a nós destinado (“a maldição da lei”, Gl 3.13), como nosso substituto, em nosso lugar, com o registro condenatório pregado por Deus em sua cruz como uma relação dos crimes pelos quais Ele estava então morrendo (Cl 2.14; cf. Mt 27.37; Is 53.4-6; Lc 22.37).

A morte expiatória de Cristo ratificou a inauguração da nova aliança, pela qual o acesso a Deus em todas as circunstâncias é garantido pelo só sacrifício de Cristo, que cobre todas as trangressões (Mt 26.27,28; 1 Co 11.25, Hb 9.15; 10.12-18). Aqueles que pela fé em Cristo receberam a reconciliação, nele são “feitos justiça de Deus” (2 Co 5.21). Em outras palavras, eles são justificados e recebem o status de filhos adotivos na família de Deus (Gl 4.5). Depois disto, vivem sob o amor motivador de Cristo para como eles, o qual os constrange e controla, amor que se fez conhecido e medido pela cruz (2 Co 5.14).

Teologia Concisa
J. I. Packer
Sinopse

Este livro delimita aquilo que me parece ser a essencialidade do Cristianismo, aceito tanto como um sistema de fé quanto um modo de vida. Costumo dizer aos meus alunos que a finalidade da teologia é a doxologia e a devoção, isto é, louvor a Deus e prática da piedade. Por isso, deve ser apresentada de forma que desperte a consciência para a presença divina. A teologia atinge a sua perfeição quando está conscientemente sob o olhar do Deus de quem fala, quando canta o seu louvor.
J. I. Packer
James I. Packer (Ph.D. Oxford University) foi professor de teologia no Regent College, em Vancouver, British Columbia, Canadá, e um dos editores da revista Christianity Today. Pastor anglicano, e autor de vários livros.

Comentário: 
Essa é a primeira de uma série de postagens de textos de teologia. Vários capítulos do livro de J. I. Packer serão disponibilizados. Algumas recentes discussões sobre alguns tópicos serão abordados. Que os leitores sejam beneficiados com essa série!

4 comentários:

  1. "A idéia da morte de Cristo apresentada aqui tem muitas vezes sido chamada teoria da "substituição penal". A morte de Cristo foi 'penal' no sentido em que ele suportou uma penalidade quando morreu. Sua morte foi também uma 'substituição' no sentido em que ele foi nosso substituto quando morreu. Esse tem sido o entendimento ortodoxo da expiação sustentado pelos teólogos evangélicos, em contraste com outras idéias que tentaram explicar a expiação independentemente da idéia da ira de Deus ou do pagamento de penalidade pelo pecado.

    Outras teorias da expiação:

    1) A teoria do resgate pago a Satanás: Sustentada por Orígenes (c. 185-254 d. C.), teólogo de Alexandria e mais tarde em Cesaréia, e depois seguida por outros teólogos na história da igreja antiga. De acordo com essa teoria, o resgate que Cristo pagou para nos redimir foi pago a Satanás, em cujo reino todas as pessoas se encontravam devido ao pecado.

    2) Teoria da influência moral: Defendida inicialmente por Pedro Abelardo (1079-1142), um teólogo francês, essa teoria da influência moral da expiação sustenta que Deus não exigiu o pagamento da penalidade pelo pecado, mas que a morte de Cristo foi simplesmente a maneira pela qual Deus mostrou o quanto ele amava os seres humanos, identificando-se com os seus sofrimentos a ponto de até morrer. A morte de Cristo, portanto, torna-se o grande exemplo que mostra o amor de Deus por nós e extrai de nós uma resposta agradecida, de modo que, ao amá-lo, somos perdoados.

    3) Teoria do exemplo: Ensinada pelos socinianos, os seguidores de Fausto Socino (1539-1604), teólogo italiano que se estabeleceu na Polônia em 1578 e atraiu muitos seguidores, a teoria do exemplo diz que a morte de Cristo simplesmente nos proporciona o exemplo de como devemos confiar em Deus e obedecer-lhe perfeitamente, mesmo que essa confiança e obediência conduza à morte horrível.

    4) Teoria governamental: Primeiramente ensinada pelo teólogo e jurista holandês Hugo Grócio (1538-1645), essa doutrina sustenta que o propósito da morte de Cristo seria a demonstração divina de que as leis de Deus haviam sido quebradas, de que ele é o legislador moral e o governador do universo e que alguma espécie de penalidade seria requerida onde quer que suas leis fossem quebradas.

    (adaptado de Wayne Grudem)

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  2. Há ainda uma discussão no post: O Evangelho da Direita: http://danieldliver.blogspot.com/2009/03/o-evangelho-da-direita_23.html

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  3. "Segundo, ensinamos o modo como ele foi executado, por nossa causa, como criminoso comum entre outros criminosos. Não precisamos compreender exatamente como isso funciona. Qualquer um que pensa compreender plenamente aquilo que a teologia denomina expiação sem dúvida nenhuma terá algumas surpresas pelo caminho. Em nenhum outro tópico a arrogância teológica se revela tão comumente quanto neste. Mas esse fato é algo que precisamos sempre contemplar em nossa mente. Essa é a boa razão para usar ou exibir uma cruz. Apesar de todas as associações falsas e desencaminhadoras que a cercam, ela ainda anuncia (mesmo sem o conhecimento daquele que a exibe): "Fui comprado pelos sofrimentos e pela morte de Jesus, e pertenço a Deus. A conspiração divina da qual faço parte paira sobre a história humana na forma de uma cruz".

    Todo discípulo deve trazer gravada indelevelmente na alma a realidade dessa pessoa maravilhosa que andou no meio de nós e sofreu morte cruel para possibilitar que cada um de nós tenha vida em Deus. Essa realidade jamais deve ultrapassar as margens da nossa consciência. "Deus", disse Paulo, "prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5:8).

    Aqui reside a exclusividade da revelação cristã de Deus. Ninguém pode ter uma visão adequada do coração e dos desígnios do Deus do universo se não entende que ele permitiu que seu filho morresse na cruz para assim atingir todas as pessoas, mesmos aqueles que o odiavam. Esse é o nosso Deus. Mas não se trata aqui apenas de uma "resposta certa" a uma pergunta teológica. É Deus quem me olha lá da cruz, com compaixão e disposição de fazer que nada me falte, sempre pronto a tomar a minha mão e me levar, onde quer que eu esteja no caminho da vida.
    A compreensão de Paulo acerca do significado da morte do Filho por cada ser humano se revela detalhadamente e com muito enlevo em Rm 8:31-39"

    Dallas Willard, A Conspiração Divina

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  4. Alguns talvez perguntem por que não falo mais sobre a morte vicária e substitutiva de Cristo na cruz pelo perdão dos pecados. A resposta é que não é que eu considere esse assunto sem importância, mas não quero que as pessoas confundam uma teoria da expiação com a experiência da graça salvífica. Pessoalmente, mantenho que a morte de Cristo na cruz satisfez a justiça de Deus e abriu o caminho para a nossa reconciliação com Deus, dependendo de nosso arrependimento e aceitação da livre dádiva da salvação. Mas, de novo, essa é uma teoria da expiação, e muitas pessoas sem dúvida experimentaram a graça salvífica e a vida abundante com Cristo como discípulos dele sem crer em nem um pingo dessa teoria em particular. Naturalmente, se eu estivesse escrevendo uma teologia da cruz, investigaria detalhadamente a doutrina da expiação.
    (Richard Foster)

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