22 de abril de 2012

O Chamado Para um Futuro Evangélico-Antigo


Pouco antes de sua morte, em 2007, Robert E. Webber passou boa parte de seu último ano trabalhando em colaboração com mais de 300 teólogos e outros líderes para criar um chamado para um Futuro Evangélico Antigo. O Chamado continua alguns temas e amplia os "Call Chicago" de 1977, e estabelece uma visão de uma fé Antiga-Futura em um mundo pós-moderno. Que Webber ajudasse a criar um tal apelo não é incomum, pois ele passou toda a sua vida profissional chamando a igreja para reforma contínua e, sobretudo, incentivando os líderes e leigos a beber do poço refrescante da verdade antiga. Que o Chamado viesse, como veio, em um momento de grande mudança no mundo e na igreja, e que também acontecesse um pouco antes de sua morte, dá ao documento uma espécie de peso que torna especialmente atraente seu exame.


Os teólogos que participaram representavam uma ampla diversidade de filiação denominacional e a listagem de editores do Chamado e membros do conselho de referência foi marcante em sua abrangência e profundidade. Mais encorajador foi que centenas de pastores, teólogos e leigos em todos os EUA, Canadá e no mundo assinaram o Chamada antes da organização que originalmente publicou o documento cessasse as suas operações.


Agora, a Rede Fé Antiga-Futura tem o orgulho de hospedar e defender o Chamado e incentiva os visitantes aqui a afirmá-lo mediante a assinatura de seus nomes, acrescentando-os à lista crescente de pessoas afins de todo o mundo.






PRÓLOGO

Em cada época o Espírito Santo chama a Igreja a examinar a sua fidelidade à revelação de Deus em Jesus Cristo, com autoridade registrada nas Escrituras e transmitida através da Igreja. Assim, enquanto nós afirmamos a força global e a vitalidade do evangelicalismo mundial em nossos dias, acreditamos que a expressão norte-americana do Evangelicalismo precisa ser especialmente sensível aos novos desafios externos e internos enfrentados pelo povo de Deus.

Estes desafios externos incluem o ambiente cultural atual e o ressurgimento de ideologias políticas e religiosas. Os desafios internos incluem a acomodação Evangélica à religião civil, o racionalismo, privatismo, e pragmatismo. À luz desses desafios, nós chamamos os evangélicos para fortalecer o seu testemunho através de uma recuperação da fé articulada pelo consenso da Igreja antiga e seus guardiões nas tradições da Ortodoxia Oriental, Catolicismo Romano, Reforma Protestante e os despertamentos evangélicos. Os cristãos antigos enfrentaram um mundo de paganismo, gnosticismo e dominação política. Em face da heresia e da perseguição, eles compreenderam a história através da história de Israel, que culminou com a morte e ressurreição de Jesus e a vinda do Reino de Deus.

Hoje, como na era antiga, a Igreja é confrontada por uma série de narrativas mestras que contradizem e competem com o evangelho. A questão premente é: quem pode narrar o mundo? O Chamado para um Futuro Evangélico Antigo desafia os cristãos evangélicos a restaurar a prioridade da história bíblica divinamente inspirada dos atos de Deus na história. A narrativa do Reino de Deus traz implicações eternas para a missão da Igreja, sua reflexão teológica, seus ministérios públicos de culto e espiritualidade e sua vida no mundo. Ao envolvermo-nos nestes temas, acreditamos que a Igreja será fortalecida para abordar as questões de nossos dias.


1. Da Primazia da Narrativa Bíblica

Fazemos um apelo a um retorno à prioridade da história canônica divinamente autorizada do Deus Triúno. Esta história -- Criação, Encarnação e Recriação -- foi efetuada pela recapitulação de Cristo da história humana e resumidas pela Igreja primitiva em suas Regras de fé. O conteúdo formado no evangelho dessas Regras serviram de chave para a interpretação das Escrituras e sua crítica da cultura contemporânea e, assim, moldou o ministério pastoral da Igreja. Hoje, nós chamamos os evangélicos a se afastar dos modernos métodos teológicos que reduzem o evangelho a meras proposições, e de ministérios pastorais contemporâneos tão compatíveis com a cultura que camuflam a história de Deus ou a esvaziam do seu significado cósmico e redentor. Em um mundo de histórias rivais, nós chamamos os evangélicos a recuperar a verdade da palavra de Deus como a história do mundo, e torná-la o centro da vida evangélica.

2. Da Igreja, a Continuação da Narrativa de Deus

Chamamos os evangélicos a tomar seriamente o caráter visível da Igreja. Fazemos um apelo por um compromisso com sua missão no mundo em fidelidade à missão de Deus (Missio Dei), e por uma exploração das implicações ecumênicas que isso tem para a unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade da Igreja. Dessa forma, chamamos os evangélicos a afastar-se de um individualismo que faz da Igreja um mero adendo ao plano redentor de Deus. O evangelicalismo individualista tem contribuído para os atuais problemas do cristianismo sem igreja (churchless Christianity), redefinições da Igreja de acordo com modelos de negócios, eclesiologias separatistas e atitudes condenatórias em relação à Igreja. Por isso, chamamos os evangélicos para recuperar seu lugar na comunidade da Igreja católica.


3. Da Reflexão Teológica da Igreja na Narrativa de Deus

Chamamos pela reflexão da Igreja para permanecermos ancorados nas Escrituras em continuidade com a interpretação teológica aprendida com os primeiros Pais. Dessa forma, chamamos os evangélicos a afastar-se de métodos que separam a reflexão teológica das tradições comuns da Igreja. Esses métodos modernos compartimentalizam a história de Deus, analisando suas partes separadas, enquanto ignoram a obra inteira de Deus como redentor recapitulada em Cristo. As atitudes anti-históricas também desconsideram o legado bíblico e teológico comum da Igreja antiga. Esse descaso ignora o valor hermenêutico dos credos ecumênicos da Igreja. Isso reduz a história de Deus do mundo a uma das muitas teologias concorrentes e prejudica o testemunho unificado da Igreja para o plano de Deus para a história do mundo. Por isso, chamamos os evangélicos à unidade na "tradição que tem sido crida por toda parte, sempre e por todos", bem como à humildade e à caridade em suas várias tradições protestantes.


4. Do Culto da Igreja como Dito e Promulgação da Narrativa de Deus

Chamamos por um culto público que canta, prega e promulga a história de Deus. Apelamos por uma consideração renovada de como Deus ministra a nós por meio do batismo, da Eucaristia, da confissão, da imposição de mãos, do matrimônio, da cura e através dos dons (carism) do Espírito, pois essas ações moldam nossas vidas e indicam o sentido do mundo. Assim, chamamos os evangélicos a afastar-se de formas de culto que se concentram em Deus como um mero objeto do intelecto ou que afirmam o "eu" como a fonte da adoração. Tal culto tem resultado em modelos  orientados para preleções, a orientados pela música, centrados em peformance, e controlados por programa que não proclamam adequadamente a redenção cósmica de Deus. Por conseguinte, chamamos os evangélicos a recuperar a substância histórica da adoração da Palavra e da Mesa e para atender ao ano cristão, que marca o tempo de acordo com atos salvíficos de Deus.


5. Da Formação Espiritual na Igreja como a Encarnação da Narrativa de Deus

Clamamos por uma formação catequética espiritual do povo de Deus que se baseie firmemente em uma narrativa bíblica Trinitariana. Estamos preocupados quando a espiritualidade é separada da história de Deus e do batismo na vida de Cristo e no seu Corpo. Espiritualidade, feita independente da história de Deus, é muitas vezes caracterizada pelo legalismo, conhecimento meramente intelectual, uma cultura excessivamente terapêutica, o gnosticismo da Nova Era, uma rejeição dualista deste mundo e uma preocupação narcisista com a própria experiência. Estas falsas espiritualidades são inadequados para os desafios que enfrentamos no mundo de hoje. Por isso, apelamos aos evangélicos a retornar a uma espiritualidade histórica como aquela ensinada e praticada no catecumenato antigo (regras e instruções para novos convertidos).


6. Da Vida Encarnada da Igreja no Mundo

Clamamos por uma santidade cruciforme e compromisso com a missão de Deus no mundo. Esta santidade encarnada afirma a vida, a moralidade bíblica e a auto-negação apropriada. Ela nos chama a sermos fiéis mordomos da ordem criada e profetas ousados à nossa cultura contemporânea. Dessa forma, chamamos os evangélicos à intensificar a sua voz profética contra as formas de indiferença para com o dom divino da vida, a injustiça econômica e política, a insensibilidade ecológica e o fracasso em defender os pobres e marginalizados. Muitas vezes falhamos em permanecer profeticamente contra o cativeiro da cultura ao racismo, o consumismo, a correção política, a religião civil, o sexismo, o relativismo ético, a violência e a cultura da morte. Esses fracassos têm silenciado a voz de Cristo para o mundo através da sua Igreja e prejudica a história de Deus do mundo, a qual a Igreja deve coletivamente  encarnar. Portanto, chamamos a Igreja para recuperar a sua missão contra-cultural ao mundo.


EPÍLOGO

Em suma, nós chamamos os evangélicos a recuperar a convicção de que a história de Deus molda a missão da Igreja para dar testemunho do Reino de Deus e para informar os fundamentos espirituais da civilização. Nós apresentamos este Chamado como um contínua conversa aberta. Estamos conscientes de que temos nossos pontos cegos e frquezas. Portanto, encorajamos os evangélicos a se engajar neste Chamado dentro dos centros educativos, denominações e igrejas locais, através de publicações e conferências.

Oramos para que possamos avançar com a intenção de proclamar um Deus amoroso, transcendente, triúno, que tem se envolvido em nossa história. Em conformidade com as Escrituras, o credo e a tradição, é o nosso mais profundo desejo de encarnar os propósitos de Deus na missão da Igreja através de nossa reflexão teológica, o nosso  culto, nossa espiritualidade e nossa vida no mundo, o tempo todo proclamando que Jesus é Senhor sobre toda a criação.

© Northern Seminary 2006 Robert Webber and Phil Kenyon

Este Chamado é emitido no espírito de sic et non, portanto aqueles que afixarem seus nomes a este Chamada não precisam concordar com todo o seu conteúdo. Em vez disso, seu consenso é que essas são questões a serem discutidas na tradição de semper reformanda enquanto a igreja enfrenta os novos desafios do nosso tempo. Durante um período de sete meses, mais de 300 pessoas participaram via e-mail para escrever o Chamado. Estes homens e mulheres representam uma ampla diversidade étnica e de afiliação denominacional. Os quatro teólogos que mais consistentemente interagiram com o desenvolvimento do Chamado foram nomeados como Editores Teológicos. Ao Conselho de Referência foi dada a tarefa especial de aprovação geral.


Editores Teológicos
2006
  • Hans Boersma, James I. Packer Professor of Theology, Regent College, Vancouver, BC, Canada
  • Howard Snyder, Professor of the History and Theology of Mission, E. Stanley Jones School of World Mission and Evangelism, Asbury Theological Seminary, Orlando, FL
  • Kevin Vanhoozer, Research Professor of Systematic Theology at Trinity Evangelical Divinity School, Deerfield, IL
  • Rev. Dr. D. H. Williams, Professor of Religion in Patristics and Historical Theology, Baylor University, Waco, TX

Conselho de Referência 2006


  • Jamie Arpin-Ricci, Co-director, Youth with a Mission Urban Ministries, Winnipeg, Canada
  • Bruce Ellis Benson, Associate Professor of Philosophy, Wheaton College, Wheaton, IL
  • Ryan K. Bolger, Asst. Professor of Church in Contemporary Culture, Fuller Theological Seminary, CA
  • Alfloyd Butler, Affiliate Professor of African American Religious Studies, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Rodney Clapp, Editorial Director, Brazos Press, Grand Rapids, MI
  • Charles H. Cosgrove, Professor of New Testament Studies and Christian Ethics, Northern Seminary, IL
  • David Fitch, Lindner Professor of Evangelical Theology, Northern Seminary, Lombard IL
  • John Franke, Professor of Theology, Biblical Seminary, Hatfield, PA
  • Dinelle Frankland, Assoc. Professor of Worship, Lincoln Christian Seminary, Lincoln, IL
  • Chris Hall, Provost of Eastern University and Dean of the Templeton Honors College, St. Davids, PA
  • Charles Hambrick-Stowe, Dean of the Seminary and Professor of Christian History, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Roland G. Kuhl, Executive Director, Institute for Missional Initiatives, Round Lake Beach, IL
  • Bryan M. Litfin, Associate Professor of Theology, Moody Bible Institute, Chicago, IL
  • Danut Manastireanu, Ph.D., Director for Faith & Development, Middle East & Eastern Europe Region of World Vision International, Iasi, Romania
  • Claude Mariottini, Professor of Old Testament, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Brian McLaren, author, Laurel, MD
  • Bradley Nassif, Associate Professor of Biblical and Theological Studies, North Park University, Chicago, IL
  • David Neff, Editor and Vice-President, Christianity Today, Carol Stream, IL
  • Dennis Okholm, Professor of Theology, Azusa Pacific University, Azusa, CA
  • Bob Price, Assoc. Professor of Evangelism and Urban Ministry, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Michael Quicke, Charles W. Koller Professor of Preaching and Communication, Northern Seminary, Lombard, IL
  • R. R. Reno, Professor of Theology, Creighton University, Omaha, NE
  • Edmund Rybarczyk, Assistant Professor of Systematic Theology, Vanguard University, Costa Mesa, CA
  • Joel Scandrett, Associate Editor Academic & Reference Books, InterVarsity Press, Downers Grove, IL
  • Douglas R. Sharp, Professor of Christian Theology, Northern Seminary, Lombard, IL
  • P.L. Sinitiere, Ph.D. candidate (history), University of Houston, Houston, TX
  • Laura Smit, Dean of Chapel, Calvin College, Grand Rapids, MI
  • James K.A. Smith, Assoc. Professor of Philosophy, Calvin College, Grand Rapids, MI
  • Jennifer Trafton, Managing Editor, Christian History & Biography, Carol Stream, IL

Patrocinadores:
Northern Seminary (www.seminary.edu)
Baker Books (www.bakerbooks.com)
Institute for Worship Studies (www.iwsfla.org)
InterVarsity Press (www.ivpress.com)

“La Llamada” en Español
      

16 de abril de 2012

Desenvolvimento Natural da Igreja: uma resenha crítica

Resenha: Byron Straughn

Em seu parágrafo de abertura, Desenvolvimento Natural da Igreja (DNI) distingue-se de abordagens comuns de crescimento da igreja. "Os críticos do movimento de crescimento de igreja, têm enfatizado com frequência a necessidade de congregações de qualidade." O autor, Christian Schwarz "concorda plenamente: os crentes cristãos não devem "focar no crescimento numérico", mas "se concentrar no crescimento qualitativo". Infelizmente, a essência do livro é comum. Deixe-me explicar.

A intenção do livro de Schwarz é introduzir as oito qualidades essenciais que cada igreja deve ter para ser uma igreja crescente e saudável. Estas qualidades podem ser vistas na Bíblia, na natureza, e em dados de pesquisa. O motivo natureza/natural, que é muito criativo, percorre todo o livro. Inicialmente, folheando o livro, você pode ser tentado a pensar que se trata de um texto de biologia ginasial. O livro é dividido visualmente, usando código de cores para os capítulos, em cinco partes. Na introdução, Schwarz aborda por que abordagens "tecnocratas" para o crescimento da igreja ou metodicamente orientadas são falhas. Seus abordagem alternativas são centradas no princípio do "potencial biótico". Em vez de planejar fazer algo crescer, ele acredita que se deve proporcionar o ambiente certo e minimizar os obstáculos ao desenvolvimento natural. O princípio do "por si mesmo" exige isso. O crescimento acontece e não podemos compreender ou fazer acontecer, podemos simplesmente reduzir obstáculos para isso. Este mecanismo de crescimento foi projetado por Deus e implantado em todos os organismos vivos, incluindo a igreja.

A primeira parte do livro discute as oito marcas de qualidade. Ele descreve a amplitude da pesquisa e o que ela revelou sobre as marcas. Algumas marcas são liderança capacitadora, ministério orientado pelos dons, a espiritualidade contagiante, estruturas funcionais, culto inspirador, e evangelismo orientado para as necessidades.

A segunda parte descreve o que ele quer dizer com "o fator mínimo". Essencialmente, ele pontua, usando outras analogias, que uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco. À característica de qualidade mais baixa deve ser dada atenção, se a igreja quer maximizar a retenção da benção de Deus.

A terceira parte do livro estabelece seis princípios que devem ser incorporados. Esses princípios estão em desacordo com a abordagem "tecnocrática" para o crescimento ou desenvolvimento da igreja. Ele ilustra isso comparando como um robô é diferente de uma pessoa. Um é montada depois que todas as suas partes são reunidas, o outro é formado a partir de um organismo. Um é uma máquina e o outro vivo. Seus princípios são interdependência, multiplicação e transformação de energia, uso múltiplo, simbiose e funcionalidade.

A quarta parte do livro sintetiza as partes anteriores. Schwarz está pronto para comparar e contrastar o paradigma que ele está propondo com os modelos alternativos de crescimento da igreja. Seu paradigma evita cuidadosamente os perigos inerentes aos paradigmas "tecnocrata" e "espiritualista".

A última seção do livro se move para a implementação. Enquanto abordagens baseadas em programas para o crescimento estão condenados ao fracasso, insiste Schwarz, "Os princípios devem sempre ser convertidas em programas aplicados" (105). Seus dez passos de ação incluem a construção de momentum espiritual, controle da eficácia (2 consultas DNI por ano), estabelecimento de metas qualitativas, aplicação de princípios bióticos, e utilizando ferramentas de DNI.

AVALIAÇÃO

Schwarz deve ser elogiado por alguns motivos. Primeiro, ele legitimamente quer se afastar de uma abordagem programática para o desenvolvimentoas de igrejas, reconhecendo que alguns dos pressupostos envolvidos nesse tipo de abordagem são simplesmente anti-bíblicos. Em segundo lugar, Schwarz tem embalado de forma concisa uma grande quantidade de dados de pesquisa. Sua pesquisa abrangeu seis continentes, 32 países e 1.000 igrejas. Ele pretende oferecer uma abordagem mais bíblica que pode ser empiricamente verificada, e o livro serve como introdução rápida de seu método e serviços de consultoria.

Infelizmente, a abordagem básica de Schwarz é inconsistente. Quero mostrar porque este é o caso. Minha maior preocupação com o DNI é o uso das Escrituras, que comunica uma baixa visão delas.

Em todo o livro há menos de 25 referências à Bíblia. Isso é cerca de uma referência para cada cinco páginas do livro. Com certeza, pode-se falar sobre as ideias cristãs sem explicitamente anexar referências bíblicas a elas, mas a defesa da abordagem não distintiva de um ou dois versículos dificilmente constitui uma base sólida. Em comparação com o rijo número referências feitas às Escrituras, existe um amplo número de analogias tiradas da natureza e de dados empiricamente verificados.

Por exemplo, o que a primeira parte do DNI (oito qualidades de caráter) está dizendo. Não há referências à Bíblia e cerca de 25 diagramas/gráficos destacando seus resultados de extensas pesquisas. Para ser justo, esta parte de seu livro é sobre o que ele descobriu sobre igrejas no que diz respeito às oito características de qualidade. No entanto, precisamos pensar sobre o raciocínio por trás da seleção dessas características. Em outras palavras, quem apareceu com os critérios para avaliar as igrejas contra essas características? O padrão utilizado para examinar as igrejas, se determinado pelas Escrituras, nunca foi explicado. Quem poderia argumentar contra algumas delas? Alguns parecem excelentes ou até mesmo bíblicos, mas eles são, finalmente, elaboração de Schwarz. Estas características assumidas não são entendidas como convencionadas universalmente ou reveladas através da criação em si. Nada aprendemos sobre a igreja a partir da criação.

Relacionado à pesquisa de Schwarz também está o pressuposto de que a amplitude das igrejas envolvidas em sua pesquisa é benéfico. Ele pontua que as igrejas variaram no que diz respeito ao declínio/crescimento, perseguidas e subsidiadas pelo Estado, modelos populares/desconhecidos, localização geográfica, idioma e carismático/doutrina (p. 18). No entanto, eu não estou tão certo de que isso é útil. O que ele entende por "igreja"? Será que uma igreja, subvencionada pelo Estado, que passa a ser liberal, rejeitando a autoridade das Escrituras, deva ser considerada uma "igreja" digna de observação? E se assim for, então o que estamos realmente observando? Quão diferente isso é de observar o café Starbucks ou a Dell? 

Schwarz está confortável com que o entendimento "liberal" seja uma ênfase excessiva no Deus, o Criador, assim como ele entende que seja excessiva a ênfase de um evangélico no Cristo Redentor, e do Carismático sobre o Espírito doador (ver seu A Arte de Experimentar Deus, 14-15). A igreja é distinta, porque ela é a nova humanidade de Deus que nasceu pela sua Palavra e separada para o seu serviço.

Voltando ao que eu vejo como uma visão baixa da Escritura estão suas práticas interpretativas. Toda a premissa de seu livro (o crescimento acontece por si mesmo, portanto, minimize obstáculos) recai principalmente sobre duas passagens - Mateus 6:28 e Marcos 4:26-29. DNI perde o significado e a intenção dessas passagens.

Uso de Schwarz de Mt. 6 depende da legitimidade do uso de uma palavra que aparece uma vez no Novo Testamento (katamanthanô) de uma forma que é exegeticamente reducionista. Jesus diz "olhe" ou, melhor ainda "olhe atentamente", mas não temos nenhuma razão para pensar que esta palavra deve revelar todo um paradigma da compreensão do crescimento de igrejas. Jesus está simplesmente usando uma ilustração e tentando conectar a verdade de seu tema com a vida cotidiana. O contexto de Mateus 6 não é sobre o crescimento da igreja, mas sobre o caráter e a ética do Reino. Jesus não está dizendo: "Olhe de modo extra rígido, estude de perto e observe diligentemente o princípio que rege o crescimento biótico da igreja." O que ele está pontuando é que a vida cristã está fundamentada em Deus. Este Deus cuida dos lírios do campo e mais ainda das pessoas feitas à sua imagem.

Uso de Schwarz de Marcos 4:26-29 é forçado. As lavouras do agricultor crescem enquanto ele dorme e ele não entende como, simplesmente acontece por si só. Schwarz entende essa automação de crescimento não como uma simples analogia, mas como uma verdade. A igreja cresce e não sabemos como, ela apenas o faz e fará por si só (ele reconhece que Deus faz isso) - "mesmo que isso não possa ser provado empiricamente" (12). Portanto, o trabalho da igreja é minimizar os seus próprios obstáculos ambientais. Esta passagem, entretanto, não é sobre a igreja, mas sobre o reino de Deus. Jesus está tentando descrever por meio de comparação aquilo que é semelhante, não o mecanismo de crescimento por trás dele. Jesus está dizendo que o curso de seu plano será realizado e no final haverá um grande julgamento. Sim, é verdade que Deus está por trás do crescimento da igreja (como visto nas igrejas individuais), mas a intenção de Jesus com esta parábola é escatológica, não biológica.

A baixa visão de Schwarz acerca Escrituras também é vista em seu desejo de colocar observações naturais e pesquisas ao lado das Escrituras ou verificando-as. Ele qualifica sua compreensão de relacionamento entre elas, dizendo: "Nem as observações das igrejas nem as observações da natureza nunca devem se tornar a base para o estabelecimento de padrões absolutos.... Nem tudo na natureza é um "princípio biótico" para ser usado no desenvolvimento natural da igreja. Nossa tarefa é cuidadosa e biblicamente discernir o que é teologicamente legítimo e o que não é "(13). Eu acho que Schwarz gira a Bíblia de cabeça para baixo. Será que a Bíblia precisa ser verificada empiricamente? E como se faz isso? No DNI você tem a impressão de que a Bíblia é usada para provar estes princípios bióticos do paradigma DNI. As observações naturais não são usadas ​​para ilustrar um princípio, ao contrário, parece que a Bíblia sustenta a legitimidade dos mecanismos naturais e os dados vão provar isso empiricamente.

É, portanto, nenhuma surpresa que o livro de Schwarz minimiza o ensino e a pregação. Ironicamente, a metáfora biológica "semente" é usada às vezes para descrever a Palavra de Deus (Marcos 4:14, Lucas 8:11, 1 Pe 1:23). Diferenças doutrinárias são borradas ou negligenciadas em DNI. Aqueles que querem ênfase em doutrina são descartados como "tecnocráticos" ou em outros momentos como "espiritualizadores". Quando Schwarz lista os dez passos a serem tomados para a implementação, o seu primeiro ponto ("Construir dinâmica espiritual") é vazio quando devia estar preenchido com o Evangelho e com o poder criador de vida da Palavra de Deus. Ele admite que o desenvolvimento da igreja é feito por causa da adoração mas ele não tem conselhos de como ou por que uma congregação é motivada a adorar. Sua resposta é que algo poderia acontecer em um retiro, o que faz as pessoas se perguntar mais sobre a sua experiência espiritual na igreja (107). Como o cientista naturalista, DNI não tem explicação para a origem da vida.

Além disso, então, não é nenhuma surpresa que a evidência que ele aponta para uma igreja que possui "espiritualidade apaixonada (contagiante)" é a "experiência inspiradora" de sua vida de oração (26). Ele coloca uma forma de "ortodoxia" contra a espiritualidade apaixonada, cortando o lugar da ortodoxia em qualquer verdadeira espiritualidade cristã. As pessoas não podem avaliar sua própria saúde espiritual de acordo com sua experiência, eles devem medir de acordo com o que Deus revelou nas Escrituras.

Depois de ter explicado por que eu penso que livro de Schwarz apresenta uma visão baixa das Escrituras, não posso apoiar este livro. Eu não recomendaria o livro a um pastor, porque eu acho que há mais material edificante que ele pudesse ler e passar o tempo buscando. Mesmo que Schwarz pretenda distanciar sua abordagem do crescimento de igrejas de outras abordagens, e que ele possa ter salientado princípios acima dos métodos, a raiz de seu "paradigma" é o seu entendimento derivado de suas observações. O propósito e plano da igreja não são obtidos a partir de observações e descrição naturais. Eles são em última instância revelados, e são parte do plano prescrito de Deus para redimir um povo para si mesmo.


Byron serve como o diretor de desenvolvimento teológico para a Cruzada Estudantil e Profissional na região do Meio Atlântico. Graduou-se no Seminário Teológico Batista do Sul em 2004. Anteriormente, ele havia trabalhado com estudantes universitários na área de DC/Baltimore. Ele é casado com Amy e tem 3 filhos pequenos.


Janeiro / Fevereiro 2008

©9Marks www.9Marks.org


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